
O Auditório dos Operários, no Cine-Teatro Ópera, recebeu na última sexta-feira (5) o lançamento de Melodia de Uvaranas, primeiro livro de poemas de Péricles de Mello, professor aposentado da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Aberto ao público, o evento lotou o espaço e reuniu familiares, amigos, autoridades e pessoas da comunidade. A obra foi publicada pela Editora UEPG e o evento foi realizado em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (Proex), o Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), o Núcleo de Cultura da FAUEPG, a Prefeitura Municipal de Ponta Grossa e a Secretaria Municipal de Cultura.


Nascido em Ponta Grossa, Péricles é graduado em Engenharia Civil e mestre em Planejamento Urbano e Regional. Em 1978, começou a lecionar no departamento de Geociência da UEPG. O professor destaca sua relação histórica com a instituição, que considera decisiva para sua trajetória. “A Universidade definiu a minha vida. Quando eu fui convidado a lecionar, fiquei com muita dúvida, porque eu consegui paralelamente um emprego de engenheiro, e o dono da empresa disse: você tem que escolher, ou a Universidade ou a empresa, porque aqui você tem que viajar. Eu optei pela Universidade, e isso definiu a minha existência. Se eu tivesse tomado outro caminho, talvez minha vida seria completamente diferente”, relata. Desde então, Péricles ficou dividido entre a atuação acadêmica e a militância política. Na vida pública, atuou como vereador, deputado estadual e prefeito de Ponta Grossa.
Lançamento pela Editora UEPG
O reitor da UEPG e autor do prefácio do livro, Miguel Sanches Neto, ressaltou que o lançamento de Melodia de Uvaranas representa também um reconhecimento institucional à trajetória do autor. “Nós podemos reconhecer a trajetória de uma pessoa através de placas, de diplomas, de prêmios, mas reconhecer através de um livro é algo extremamente simbólico para a Universidade, que é a casa do conhecimento”, disse. Para o reitor, a obra revela uma dimensão pouco conhecida do autor: a sua dedicação à literatura, que vem desde a juventude, mas ainda era tímida. “Ele guardou esses poemas. Muitos são de décadas atrás e agora vêm a público para revelar outra face do prefeito, do deputado, do professor e do poeta Péricles. A partir de agora, a coleção de poemas do Péricles não é mais só dele. É uma coleção de poemas da cidade, da cultura de Ponta Grossa e da cultura paranaense”, afirmou.


Sobre o texto, Miguel descreveu o autor como “um poeta lírico que trata das grandes temáticas do lirismo: a infância, o amor, os lugares por onde passou, as pessoas com quem ele que conviveu”. Segundo ele, Péricles utiliza uma linguagem moderna e baseada na experiência humana para representar um sentimento coletivo de toda uma região e da cidade de Ponta Grossa. “Ao longo de toda a sua trajetória de vida, Péricles escreveu, cultivou e foi um defensor da poesia. Mais do que isso, foi um defensor de uma visão poética do mundo. É muito raro que se cheguem a cargos públicos poetas, então, é uma raridade o que nós temos aqui”, destacou. O reitor também destacou o papel da Editora UEPG. “O Brasil está organizado editorialmente a partir de São Paulo, Rio de Janeiro e algumas outras capitais. Então, as universidades públicas têm um compromisso com a ciência e com a cultura, através das suas editoras, porque conseguem fazer a publicação de autores locais, além de textos acadêmicos. É um compromisso da Universidade com a cultura local.”
Melodia de Uvaranas
Em seu livro de estreia, Péricles reúne uma produção poética construída ao longo de toda a vida, com textos ligados às lembranças, aos afetos e às paisagens do bairro onde viveu até os 15 anos. “O bairro de Uvaranas é que me deu toda a experiência fundamental da minha existência. Eu nasci na Maternidade Santana, me criei na Rua Bituruna, estudei no Colégio Estadual General Osório, joguei futebol na quadra da torre, que não existe mais. Então, o universo do bairro foi formando a minha identidade”, recorda. Para ele, havia uma divisão clara entre o bairro e a cidade. “A minha primeira poesia, a relação com a adolescência, com as mulheres, com o amor, a compreensão da morte, as figuras simbólicas da minha vida, tudo se consolidou nessa época da minha vida, no bairro de Uvaranas”.


O autor também comentou a sua relação com a poesia, que começou na infância e dentro do ambiente familiar. “Eu sempre gostei de poesia, e eu devo isso ao meu pai e à minha mãe. A minha mãe tinha uma formação cultural mais sólida. Meu pai só estudou até o primário, mas ele tinha uma sensibilidade artística, tocava violão, gaita, me acostumei com isso. Eu nasci escutando música e poesia, me ensinaram a declamar com três anos, gostava de decorar versos, e isso me levou à literatura”, conta. Ele recorda que em 1982 ficou em segundo lugar num concurso da Universidade, uma das poucas ocasiões em que teve seus poemas publicados, e que uma palestra de 2001 resultou em um texto publicado com orientação de Miguel Sanches Neto, que mais tarde o incentivaria a reunir sua produção textual em livro. “Eu nunca parei de escrever, mas escrevia pouco. Quando eu deixei de ser deputado, achei que era hora de publicar. E há três anos o Miguel me sugeriu fazer um livro. Então, ele é o grande responsável por esse livro sair nesse momento. Como eu tive mais tempo, acabei conseguindo terminar. Achei que ficou um livro bom, estou muito feliz com o resultado”, afirma.
Exposição e recital poético
O lançamento contou com a abertura da exposição de cartazes de Luiz Fernando Esteche e de ilustrações de Douglas Mayer, criados especialmente para acompanhar os poemas. “Eu sou natural de Ponta Grossa e também vivi muitos anos no bairro de Uvaranas. Aí começa a minha ligação com essa obra do Péricles, porque tem muito a ver com o que eu vivi e remete a muitas lembranças da minha infância até os 20 anos, quando eu saí de Ponta Grossa”, recorda Douglas, que completou recentemente 50 anos de carreira no jornalismo. “Eu comecei como ilustrador no Jornal Panorama em Londrina e trabalhei em quase todos os jornais de Curitiba. Para mim é muito significativo a participação nesse livro do Péricles porque eu consegui fazer um resgate de toda essa minha trajetória como ilustrador, como chargista, como jornalista e artista plástico.”


A programação incluiu ainda um recital poético dirigido por Octávio Camargo, com leituras dramatizadas de textos selecionados, além de sessão de autógrafos. Entre os presentes, o deputado federal Aliel Machado destacou a importância do evento e o papel da Editora UEPG na valorização da produção cultural local. “Hoje nós estamos num espaço importante que é o Cine-Teatro Ópera, para o lançamento de um livro da editora da Universidade, que é o orgulho da nossa cidade, e com a presença do maior escritor da cidade, que é o professor Miguel Sanches Neto, que também participou da elaboração desse livro. E eu estou aqui apenas como um amigo do Péricles, e tenho orgulho de ter acompanhado algumas dessas ações e poder participar de um momento marcante como esse”, disse. Para ele, o lançamento permite ao público conhecer outras dimensões da vida do autor. “Nós temos um artista que dedicou a sua vida aos meios políticos e agora tem a oportunidade de compartilhar experiências da sua vida pessoal”, destacou.
Texto e fotos: João Pizani

























































