
Observações realizadas em atividades acadêmicas na Fudan University, em Xangai, durante programa da Global Network for Advanced Management, indicam que modelos educacionais adotados em países que avançam na transformação digital combinam pesquisa aplicada, análise de problemas e integração entre instituições públicas, privadas e universitárias.
As atividades envolveram aulas, debates e visitas técnicas a empresas de logística urbana, centros de inovação e organizações que operam em larga escala com serviços digitais. O objetivo foi examinar como práticas adotadas em ecossistemas chineses podem ajudar a interpretar desafios enfrentados por políticas digitais no Brasil.
A pesquisa analisada na Fundação Getulio Vargas (FGV) estuda como a autonomia técnica de equipes públicas influencia a continuidade de plataformas digitais contratadas pelo Estado, especialmente no setor educacional. Documentos do Banco Mundial afirmam que governos precisam desenvolver capacidade interna para operar sistemas críticos e reduzir dependência de fornecedores externos. O relatório GovTech Maturity Index avalia condições institucionais relacionadas a sistemas centrais, serviços digitais, engajamento cidadão e fatores que influenciam a resiliência de políticas digitais. O documento destaca que níveis mais altos de maturidade estão associados a práticas de gestão técnica contínua por parte do Estado.
Durante as atividades acadêmicas na China, foi possível observar que contratos digitais incluem exigências de participação direta de equipes públicas em ciclos de teste e acompanhamento técnico contínuo. Avaliações do Banco Mundial sobre maturidade GovTech indicam que práticas desse tipo reduzem riscos de descontinuidade e ampliam a capacidade de adaptação do Estado. A presença de universidades como Fudan e Tsinghua em projetos conjuntos reforça o entendimento de que o desenvolvimento de políticas digitais envolve aprendizado institucional sustentado.
Outro ponto observado em Shanghai foi a centralidade da formação digital progressiva. A UNESCO, no relatório Digital Literacy Global Framework, organiza competências digitais em áreas como operações, dados, comunicação, criação de conteúdo, segurança e solução de problemas, indicando que o desenvolvimento dessas capacidades ocorre de forma progressiva. O estudo de Alan Dantas em desenvolvimento na FGV sugere que políticas educacionais brasileiras muitas vezes iniciam projetos tecnológicos sem consolidar fundamentos necessários para sua implementação sustentável. O relatório da OCDE sobre competências digitais, Skills for a Digital World, aponta que competências cognitivas fundamentais e habilidades digitais básicas influenciam a capacidade de adaptação tecnológica em diferentes setores. "A análise de processos digitais é um componente relevante da formação tecnológica", afirmou Alan Dantas.
As visitas técnicas incluíram uma passagem pela sede da Meituan, empresa que opera uma das maiores plataformas de serviços urbanos da China. Durante a atividade, representantes explicaram tendências de expansão internacional e comentaram a presença da empresa no Brasil por meio da Keeta, que vem sendo observada como oportunidade de entrada em um mercado considerado estratégico pela companhia. O interesse demonstrado reforça como ecossistemas digitais chineses avaliam positivamente o potencial brasileiro e como práticas de grande escala podem oferecer referências úteis ao debate sobre políticas públicas digitais.
Organizações de logística urbana observadas durante o programa atualizam modelos operacionais com base em dados diários. O Fórum Econômico Mundial estima, no documento Future of Jobs Report, que cerca de 39 por cento das competências essenciais deverão mudar até 2030. Sínteses do relatório divulgadas pela imprensa estimam a criação líquida de aproximadamente 78 milhões de empregos no período, o que reforça a importância de políticas públicas capazes de revisar processos e indicadores com maior frequência.
O relatório World Development Report: Governance and the Law mostra que a qualidade das instituições, das regras e dos processos administrativos influencia a eficácia e a continuidade das políticas públicas, incluindo iniciativas que envolvem tecnologia. Essas análises reforçam a importância de padrões institucionais consistentes para sustentar políticas digitais.
As observações reunidas durante o programa acadêmico em Shanghai mostram que práticas básicas, como documentação estruturada, reuniões técnicas regulares, padrões mínimos de interoperabilidade e formação contínua, influenciam diretamente a estabilidade de políticas tecnológicas. Estudos de Peter Evans em Embedded Autonomy e análises de capacidades estatais produzidas por Pires e Gomide no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada reforçam que a continuidade de políticas digitais depende tanto de infraestrutura quanto de aprendizagem institucional, algo que pode e deve acontecer em todas as etapas de uma contratação pública.
As evidências apresentadas em atividades acadêmicas internacionais indicam que iniciativas de formação digital que combinam análise, organização de processos e uso integrado de ferramentas podem apoiar gestores e instituições no desenvolvimento de programas educacionais alinhados a demandas contemporâneas. As práticas observadas na Fudan University oferecem referências úteis para estudos e debates sobre capacitação digital no contexto brasileiro.


